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Entre os modelos de relógios solares mais conhecidos, destacam-se aqueles verticais e horizontais. Os primeiros são comumente vistos em fachadas de edifícios públicos emblemáticos que abrem para grandes praças ou pátios, com a finalidade de associar a distante face do edifício a uma utilidade pública. Na Europa, devido ao fato de muitas vilas e cidades terem-se originado de um tecido urbano romano com desígnios cartesianos, muitos pátios e praças conformavam polígonos donde algumas faces sempre direcionavam para um pondo cardeal específico. Deste modo, as fachadas dos edifícios lindeiros eram naturalmente convidativas para a locação de um gnômon.
Embora sejam bastante eficientes para uma leitura à distância, estes relógios apresentam algumas particularidades quando se trata da latitude do sítio. Quanto mais elevada a latitude, mais próximo do horizonte transita o Sol, ou seja, maior a tendência do Sol oscilar exclusivamente por um hemisfério celeste relativo, o que garante o iluminamento constante de qualquer superfície vertical apontada para este ponto cardeal ao longo do ano. No caso de Recife, cuja latitude é quase zero, ao longo de um ano o Sol oscila pelos dois hemisférios celestes relativos, o que leva um relógio solar vertical nesta região a ser iluminado ora em uma face num período do ano, ora noutra em outro período.
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Os relógios solares horizontais não apresentam essa particularidade, logo são os mais difundidos. Os mais conhecidos são aqueles modelos de pequeno porte costumeiramente vistos em jardins floridos, como uma espécie de bibelô de culto.
Este modelo horizontal, entretanto, está longe de resumir-se a um mero capricho estético. Desde da Grécia antiga pequenos relógios solares horizontais dispostos em pátios eram empregados como instrumento didático, em aulas de astronomia e geometria. Esta tradição, pelo visto, manteve-se, embora sua essência tenha-se diluído ao longo dos séculos. Sua peculiaridade é a intimidade criada entre a peça e o observador, se modo que a clareza de sua leitura requer a proximidade imediata de quem o lê.
Em ambos os casos, é notório que a implantação de um relógio solar requer uma noção mais ampla de paisagem. A própria função do relógio é remeter-nos a uma meta-paisagem, onde a dimensionalidade e a condição telúricas rompem-se.
Sob este viés, o relógio solar Analemmatos é o desejo de extravasar o monumento, de aproximar monólito e observador a ponto de compreender-se a grandeza do que o cerca materialmente - a tátil e olorosa paisagem natural terrena - e imaterialmente - a luz.
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A tortuosa estrada de terra que corta a Mata Atlântica revela aos poucos a alva fábrica à esquerda, enquanto a gentil verdura boscareja à direita funde-se a arrimos de pedra e cerâmica para guardar-nos do grande vislumbre: uma vasta relva em declive, mangueiras, goiabeiras, bambus e tantas outras, o açude e, ao fundo, a densa mata. A luz diurna é abundante e ressalta fortes contrastes entre o chão, o entorno e o céu.
Neste trecho da estrada pronunciam-se duas baias, entre as quais conflui um escorredouro que deságua a abundância do açude no rio Capibaribe. É na baia mais larga, em cuja face que fita a água repousa o painel de um peixe, que o relógio solar Analemmatos implanta-se.
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A Mata Atlântica, o açude e a baia ainda erma. O automóvel está estacionado ao lado da baia secundária, onde será erguida a escultura de um pássaro Rocca.
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A estrada antes de ser calcetada. O homem de vermelho (o colega Cristiano Borba) observa o açude à sua frente, diante do local de implantação.
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A outra direção da mesma estrada, onde se vê o edifício da fábrica cerâmica (a chaminé está desativada).
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O local antes do beneficiamento do calçamento.
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